Com certeza isso não matou minha produtividade hoje. Com certeza eu não vou passar o dia especulando o que é aquele novo botão no joy-con direito. Com certeza eu não vou ficar imaginando como funciona o suposto “mouse”. Tem muito tempo até abril.
Ió
O Ió em 2010.
O Ió faleceu nesse sábado, dia 11. Meus pais chegaram em casa no fim da tarde e perceberam que ele não foi encontrá-los, como de costume. Encontraram o corpo do Ió deitado sob a sombra da sibipiruna que fica do lado de casa. Eu não recebi a ligação da minha mãe na hora porque desliguei o celular numa sessão de cinema. Quando vi a mensagem, caí no choro.
Todos os cachorros (e gatos, e galinhas, e coelhos) que já passaram pela casa dos meus pais são únicos. Nenhum deles tem a mesma personalidade. Eles criam em mim memórias específicas, afetos diferentes. Do Ió eu provavelmente vou lembrar do carinho infinito que ele sempre teve.
Não por mim em especial, o Ió tinha um carinho gigantesco pela minha mãe. Onde ela ia, ele ia. Minha mãe passa o dia andando pela casa e pelo pátio ao redor dela, e você podia apostar que, se o Ió já não estivesse do lado dela, é porque ele estava indo encontrar ela. Com o passar dos anos, e com a piora do seu problema cardíaco, ele foi ficando mais devagar. Mas, tiro e queda. Se minha mãe estava na garagem, o Ió estava fazendo a volta pela casa pra encontrá-la (ele não conseguia mais subir a escada nesse último ano).
Embora tivesse dezesseis anos, o Ió sempre foi um filhote pra mim. Ele sempre foi muito doce, muito sensível. O Ió sempre teve olhos tristes, mas ele nunca desviava o olhar. Ele ficava nervoso fácil, mas ele também tinha uma felicidade imensa. Ele ganhou esse nome porque o rabo dele era tão pequeno que não dava pra ver — então o Ió não balançava o rabo quando estava feliz, ele rebolava.
O que me deixa triste na partida do Ió foi a circustância. Ele não teve um ano fácil, é verdade, mas ele parecia estar melhor. Meus pais tiveram semanas que não conseguiam dormir direito, porque o Ió ou tinha um ataque de tosse ou chorava. Eu decidi ir visitá-los pra fazer um revezamento no turno da noite com eles. Eu levava o Ió para o meu quarto e ele dormia comigo e com o Tobias, e quando ele acordava assustado e chorava, eu acalmava ele até ele dormir de novo. Umas boas noites de sono pareciam ter resolvido os problemas deles. No mês seguinte a tosse diminuiu e ele tava comendo melhor. Meus pais finalmente deixaram os cachorros em casa no sábado para visitar meus tios, e então voltaram e encontraram o corpinho do Ió deitado na sombra que ele gostava de deitar quando a mãe tomava chimarrão na rua.
Eu quero pensar que o Ió não morreu sozinho. Eu imagino que a Zinha, a companheira dele nesses últimos anos, esteve com ele até o fim. É algo que ela faria. Ele provavelmente não chorou, ou sentiu dor, porque os vizinhos não ouviram. Eu acho que uma amiga da mãe decifrou o momento como ninguém: ele esperou minha mãe sair, para ela não ver; para ela não se preocupar, não sair correndo com ele para o veterinário — que ele sempre odiou ir.
Eu não sei o que aconteceu naquela tarde, não sei o que acometeu naquele corpinho rechonchudo e orelhudo. Eu espero que realmente não tenha doído, eu espero que ele não tenha se sentido sozinho. Mas eu não tenho como garantir. Eu quero pensar que ele se despediu da mãe pela manhã, e foi descansar sob a sombra da árvore que ele acompanhava ela no fim do dia. Até na hora de partir, ele foi carinhoso.
O Ió e a Zinha em 2020.
Uma boa surpresa hoje de noite. Minha irmã criou uma newsletter. Minha irmã não escreve muito (pelo menos não publicamente), mas sempre que eu leio algo dela eu gosto muito. Tô empolgado pra poder ler ela daqui pra frente.
Aqui o link pro RSS, se você quiser seguir pelo seu leitor.
🎬 Coloquei o meu diário do Letterboxd em dia, com impressões de todos os filmes que eu vi em 2024 (até aqui).
🏡 Vou passar a semana do natal aqui na casa dos meus pais, no interior. Aqui a noite ainda é fria, e eu gosto de andar pelo pátio no meio da noite, para sentir esse frio. É um frio quieto, mas acolhedor.
Eu visitei meus amigos hoje, alguns que eu não via há algum tempo. É tão bom ver eles. Eles parecem tão bem — a vida de um jeito na gente, ou a gente deu um jeito na vida. As coisas funcionaram para nós. Não temos mais o convívio da escola, ou das nossas férias de verão juntos, mas tem algo em rever eles que é bom.
Nos ainda somos aquele bando de inconsequentes que se reunia pra comer batata frita e tomar cerveja no domingo antes do trabalho, mas agora não somos mais? Nos reunimos no domingo antes do trabalho depois de dois anos sem conseguirmos nos ver, e nossos assuntos mudaram. Agora é sobre o trabalho, sobre como o tempo corre, como as coisas mudam — como as pessoas que moravam nas casas em que crescemos não estão mais lá, sobre o que existe hoje nos lugares que íamos antes. A gente muda, o tempo passa, mas isso que a gente tem junto… isso continua.
🕹️ Tem uns jogos que são uns “favoritos discretos”, né? Aqueles que a gente sempre tem disponível em algum console ou no computador. Que a gente pode não jogar sempre, mas sempre tá ao nosso alcance por que, quando a vontade de jogar ele bate, ela é invencível (pensamento que me veio na cabeça jogando Burnout Paradise, que eu tenho instalado no computador, no Switch e no PS5).
🏖️ Hoje é o meu último dia de férias (embora eu só volte a trabalha na segunda-feira). Foi a primeira vez em mais de uma década que eu tirei o meu período integral de férias de uma só vez. Eu acho que vou fazer isso sempre, daqui pra frente. Não só deu tempo para fazer uma viagem bacana, mas consegui colocar em dia várias tarefinhas em casa, fiz alguns exames que eu tava postergando e dei uma limpada no meu guarda-roupa.
Eu também consegui colocar em dia uns jogos que eu queria terminar (Link’s Awakening e Shadow of the Colossus), li bastante e não vi tanto filme quanto eu queria, mas dei um tapa nesse site aqui. Eu consegui descansar muito, também. Essa parte foi a mais importante.
👨💻 Eu fiz alguns ajustes no estilo dos detalhes dos posts hoje de manhã. Acho que melhorou e deu uma “limpada” na hora de ler o blog. As datas também estão padronizadas tanto na lista de posts quanto no post em si.
As cinco melhores coisas de 2024
Queridos,
Esse é o último post do ano. Que ano… talvez o mais estranho e difícil que eu tive até aqui. Mas o Tobias está melhor agora, e as contas estão em dia.
Agora é hora de uma antiga tradição que eu tinha no Pão com Mortadela de elencar os cinco destaques da minha dieta cultural do ano. Pela primeira vez, eu vou postar ela no meu site pessoal. Pela última vez, ela vai ser exclusiva de lançamentos do ano. Isso porque muito dos melhores filmes, jogos ou séries que eu encontrei esse ano são, na verdade, mais antigos. E não é que lançamentos não são tão bons quanto os clássicos — é que, conforme o tempo passa, eu tenho menos tempo para acompanhá-los, e muito do meu tempo livre hoje é botando em dia séries que eu queria ter visto antes, livros que eu queria ter lido antes, jogos que eu só consegui terminar agora, e por aí vai.
Então aí vão as cinco melhores coisas de 2024, e cinco outros filmes, jogos, séries, músicas e links que eu gostei bastante.
Filme: O Sabor da Vida
(Tran Anh Hung, 2023). Que filme incrível. Uma história de amor tão misteriosa quanto saborosa de assistir. O filme de Tran Anh Hung parece ser um experimento molecular: ele aguça os sentidos com seus planos ao redor da cozinha, em que Juliette Binoche e Benoît Magimel quase dançam entre fornos e tábuas de cortar, entre as carnes e as massas e os legumes; e aquece o coração com uma paixão e um amor que surge entre cozinheiros. Narrado entre as estações do ano, O Sabor da Vida é um daqueles filmes impecáveis — seu diretor desenrola a estética do filme de uma maneira que revê-lo abre uma nova dimensão para o espectador. É um daqueles filmes que fica no nosso corpo.
E também:
- Dahomey (Mati Diop, 2024). Uma fábula-documentário sobre artefatos que viajam da terra de seus colonizadores de volta para sua terra natal no oeste da África. Diop filma “a história” dessas peças saqueadas e retornadas — o que elas “viram”, do que elas “lembram”. O mais único, e mais especial, filme que eu vi esse ano.
- La Chimera (Alice Rohrwacher, 2023). Rohrwacher faz filmes mágicos, e La Chimera talvez seja o melhor deles até aqui. Eu saí da sessão querendo viver nesse filme, uma colisão de passado e presente, de mito e de realidade, tradicional e inventivo.
- Tudo Que Imaginamos Como Luz (Payal Kapadia, 2024). Um filme cheio de alma, e cheio de momentos de vidas. No plural. Retratando a imensa Mumbai, é um filme que nos isola em nossa solidão, em nosso íntimo. Dentre as milhões de histórias que participamos e assistimos, algumas são pérolas milagrosas como as desse filme.
- Todos Nós Desconhecidos (Andrew Haigh, 2023). Um dos meus filmes favoritos. Eu escrevi sobre ele no Pão: é uma daquelas obras-primas extremamente íntimas. É algo surreal quando um diretor consegue ilustrar uma sensação tão interna, de desejo e de solidão, em um filme. Haigh conseguiu, de novo.
Música: “Clouding Clouds” (Sarah Neufeld, Richard Reed Parry & Rebecca Foon)
Eu tava subindo os Andes ouvindo o First Sounds, o novo disco dos instrumentistas do Arcade Fire, quando a dobradinha “Clouding Clouds” e “First Sound” tocou. Tem algo de perfeito nesse momento: as cordas dos violinos pontuaram o dia nublado que cobria o céu e a pedra escura que formava aquele lugar — um mar de montanhas imensas, maiores do que qualquer coisa que eu já vi na minha vida. Envoltos em mistério, como essa música, que parece lapidada pelo próprio vento. Todo o First Sounds reflete o trabalho de Neufeld, Reed Parry e Foon nos seus primeiros anos de colaboração (o que explica alguns trabalhos que parecem terem vindo de Funeral), mas é o ambiente que eles criam — cheio de textura, de espaço entre os instrumentos — que tornaram esse o meu disco do ano, e foi o momento que tornou “Clouding Clouds” a sua música chave pra mim. É uma música que respira o ar que está ao nosso redor, e exala na nossa mente.
E também:
- “Alone” (The Cure). Um disco novo totalmente tomado pela morte e pela solidão, e “Alone” talvez seja minha nova música favorita do The Cure. E que voz cristalina essa do Robert Smith, hm?
- “Mary Boone” (Vampire Weekend). Como o novo álbum dos Yeah Yeah Yeahs antes, o Only God Is Above Us encontra o Vampire Weekend naquele momento que você percebe que eles amadureceram, como esse post no Bluesky consegue descrever tão bem. “Mary Boone” nos lembra do tipo de som que essa banda já fez — mas tem uma nova camada de maturidade em cima, que não a torna tão enérgica, mas adiciona uma profundidade no seu som.
- “TEXAS HOLD’EM” (Beyoncé). Pra mim, Cowboy Carter entregou tudo o que Renaissance não tinha. Em “TEXAS HOLD’EM”, a Beyoncé encontra um ponto entre o que tornou seu Lemonade em uma obra-prima e seu I am… Sasha Fierce tão enérgico de ouvir. Tomou 1/3 do meu ano.
- “VELUDO MARROM” (Liniker). Quando começa, “VELUDO MARROM” parece uma típica música de Liniker: uma descrição muito íntima de um momento que ela busca eternalizar. A descrição de um toque, de um beijo, de uma manhã. Mas quando a orquestra chega, Liniker explode a música aos quatro ventos em uma grandiosidade que eu não tinha ouvido ela manejar antes. Seu íntimo se transforma em transcendental.
Série: Alguém em Algum Lugar
(3ª temporada, HBO). Alguém em Algum Lugar foi um daqueles milagres que são cada vez mais raros na TV: uma série sobre nada, falando em termos gerais; mas sobre tudo, em específico. Como Betty, era leve, mas nunca foge das imperfeições de suas personagens. Aqui, sobre um grupo de pessoas no interior do Kansas que se sentem fora de si encontram, entre eles, um lugar para chamar de seus. É uma última temporada que não parece um fim, o que é de partir o coração mas também honesta com essa série, esperançosa até seus últimos momentos.
E também:
- Conan O’Brien Must Go (1ª temporada, HBO). Eu queria muito esse trabalho, encontrar uma desculpa pra viajar o mundo e fazer uma série sobre isso.
- Ripley (minissérie, Netflix). A série mais linda do ano, as vezes até demais — distraindo da construção de personagem ou de trama porque estamos vislumbrando a beleza estonteante da série, até ela puxar seu tapete.
- Sunny (1ª temporada, Apple TV+). Que ótima surpresa! Sunny parece um pouco como The Leftovers, um pouco como Westworld, se é que isso faz sentido. É divertido até ser triste, como The Leftovers; e tem o orçamento necessário pra fazer sua ficção científica funcionar, como Westworld — mas também tem aquela textura e vivência de filmes como Ela. Esperando muito a nova temporada.
- Xógum: A Gloriosa Saga do Japão (1ª temporada, Disney+). A maior série do ano e, eu acho, a próxima série essencial da TV. Assim como outras grandes séries, como Sopranos e Breaking Bad, a primeira temporada é excelente — mas é melhor ainda no que ela sugere: que será ainda maior, ainda mais profunda, nos anos seguintes. Eu mal posso esperar.
Jogo: Monument Valley 3
(ustwo, iOS e Android). Chegou no finzinho do ano, e roubou meu coração. Como os anteriores, Monument Valley 3 é lindo, mas também parece um milagre: ele te ensina a ver de novo, de novos jeitos. Virou uma rotina minha, todo dia de manhã tomar um café e brincar em seus quebra-cabeças arquitetônicos enquanto levo Noor de ilha a ilha, encontrando e formando uma comunidade na imensidão do oceano que tomou seu mundo. Como o original, é um jogo inesquecível.
E também:
- Animal Well (Shared Memory, PC, PlayStation, Switch, Xbox). Um mistério em forma de metroidvania, Animal Well é o jogo mais impressionante que eu joguei esse ano. Um jogo que te ensina a jogar ele, e te ensina a jogar ele de uma forma completamente nova logo depois. Além disso, é belíssimo.
- The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom (Nintendo, Switch). Eu não tava esperando um novo Zelda esse ano, e nem um Zelda tão bom. Mas foi muito acertado os desenvolvedores voltarem para a fórmula mais clássica da franquia após Tears of the Kingdom e transcrever muito do que eles aprenderam no jogo anterior. É refrescante jogar um novo Zelda que parece, mas não é, aqueles Zeldas de quando eu cresci.
- Thank Goodness You’re Here! (Coal Supper, PC/Mac, PlayStation e Switch). Mais jogos deviam ser uma comédia como esse “slapformer” de um homem visitando uma cidadezinha e as várias vinhetas das situações que ele encontra por lá. É curtinho, mas é uma delícia de jogar. Antes da chegada do novo Monument Valley, era o meu jogo do ano.
- UFO 50 (Mossmouth, PC). Uma coletânea de jogos que reune um espírito de diversão, descoberta e experimentação que não se vê nos jogos de hoje em dia. Como os jogos da geração de 8-bit, cada jogo de UFO 50 é como aprender a jogar pela primeira vez de novo.
Link: “Do Elephants Have Souls?”
(artigo, The New Atlantis). Eu venho lendo a The New Atlantis há um tempo, mas de alguma forma eu nunca tinha lido esse belíssimo artigo sobre a condição da existência dos elefantes (e de animais como um todo) em um planeta moldado por humanos. Não só a busca pela evidência de alma nessas criaturas magníficas, mas também a busca pela nossa responsabilidade ao moldarmos leis ao redor delas. Eu li esse artigo no avião, indo pro Chile, e chorei várias vezes. Pela beleza do que ele descreve — existe um mundo inteiro intocado e intocável por nós dentro do monumento que é um elefante — e pela atrocidade do sofrimento que causamos nesse mundo, para além da nossa compreensão.
- “Madalena” (newsletter, Le Chouchou). A Aline (@tdbem) criou uma newsletter nesse ano e se tornou numa leitura obrigatória pra mim. Esse belíssimo texto sobre Em Busca do Tempo Perdido é um de seus melhores — nos dando um incentivo para ler a obra-prima, mas também nos indicando o que podemos encontrar por lá.
- Never Post (podcast). Um novo podcast favorito! Never Post, um podcast sobre a internet, é como ler a Wikipédia: cheio de histórias surpreendentes, conexões inesperadas, e a lembrança de que são seres humanos, e não robôs, que criaram tudo isso. Experimente o episódio ao vivo na XOXO desse ano, é o melhor ponto de entrada.
- “We need to rewild the internet” (artigo, NOĒMA). A melhor descrição que eu já li para a internet está nesse texto — e a melhor descrição de como podemos tomá-la de volta também.
- “‘Agora somos nós em um barco de resgate, tendo que contar ao mundo que estamos nos afogando’” (artigo, SUMAÚMA). Isso aconteceu esse ano. A cidade ainda cheira, ainda tem marcas. A SUMAÚMA registrou durante o ano a destruição e o descaso das enchentes no RS como nenhum outro lugar. Nesse artigo de relatos, eternizou a experiência do que foi. O silêncio da cidade ainda assombra.
É isso pra 2024.
Nos vemos no futuro.
— Arthur.
A sequência de trocas de “Link's Awakening”
Link’s Awakening é o meu jogo de Zelda favorito. Eu tô jogando ele de novo (no remake lançado pro Nintendo Switch em 2019), e eu lembrei da genialidade que é a sequência de trocas que existe nele.
Em Link’s Awakening, o Link se perdeu atravessando o Grande Mar e acaba naufragando na Ilha Koholint. Ela é diferente de tudo o que já vimos na Hyrule dos Zelda anteriores: é uma ilha tropical cheia de monstros vindos de outros jogos da Nintendo, como os Goomba do Super Mario e uma criatura que parece muito o Kirby.
Eu escrevi sobre isso no ranking: o que torna Link’s Awakening especial pra mim é a sua densidade. Embora o mapa seja pequeno (ele foi desenvolvido dentro dos limites do Game Boy original), Koholint está repleta de personagens marcantes. Embora eles sejam aqueles típicos NPCs, com seus roteiros de diálogo prontos e ciclos de movimento, eles complementam a estranheza do cenário: o senhor Ulhira não gosta de falar pessoalmente, então você precisa sempre falar com ele por telefone; a vovó Yahoo adora gritar “yahoo”; o Mr. Write troca correspondências com Christine, uma coelha que dá um catfish nele com a foto da princesa Peach; e por aí vai.
Como em todos os Zelda depois de A Link to the Past, Link não é só um herói que tenta aniquilar um vilão. Ele é um “amigo da vizinhança” que tenta ajudar os habitantes de Hyrule em missões paralelas: seja resgatar os cuckoos de um morador da vila Kakariko ou encontrar as botas de neve de alguém no deserto Gerudo, as aventuras de Link sempre são espiralantes.
Só que, diferente de outros jogos, Link’s Awakening coloca esses aspectos no palco central com a chamada sequência de trocas. No início, ele parece muito algo paralelo e opcional: você compra um boneco do Yoshi para a mãe de uma criança, mas ao invés de ela retribuir com rúpias ou uma arma, ela te retribui com um laço.
Conforme o jogo progride, você encontra um personagem que vai trocar o laço por uma outra coisa, e então isso vai ser trocado por outra. Eventualmente, a sequência de trocas deixa as margens da história e se torna sua missão principal. A essa altura você já vai conhecer Koholint e seus habitantes naturalmente, e você vai saber naturalmente o que fazer com o item que você recebeu — talvez porque alguém tenha falado que precisava de algo com o item que você está agora, ou porque o item tem a cara de um personagem específico.
Acho que a sequência de trocas é o meu detalhe favorito de Link’s Awakening, e provavelmente é meu detalhe favorito dentre todos os jogos que eu já joguei. É incrível, principalmente com o quão trágico esse jogo é. Sua missão nessa lenda de Zelda é acordar o Peixe-Vento, e suas boas ações nesse jogo te faz se aproximar dos personagens, que te ajudam nessa missão. Porém (e spoilers para a trama do jogo), é justamente o que irá “destruir” Koholint e a vida desses personagens que você quis tanto ajudar.
Isso tudo, porém, pontuado o humor e estranheza típicos de Link’s Awakening tornam esse jogo em algo realmente único pra mim. Embora seja engraçado e trágico ao mesmo tempo, Link’s Awakening é o único jogo além de Breath of the Wild que parece capturar um lugar com tanta vivacidade. Mesmo pequena, a ilha Koholint é imensa em história — cada personagem tá fazendo algo ou precisa de algo, tem alguma relação com outro personagem ou outro lugar, e assim por diante. É mágico e surpreendente, porque a sequência de trocas (e Link’s Awakening como um todo) opera como um sonho: você lembra que está lá e lembra que uma coisa leva a outra, mas as especificidades são tão intricadas que você as perde com o tempo, já que para lembrar de algo tão detalhadinho você precisaria lembrar de todos os detalhes ao redor também. Sempre que eu jogo Link’s Awakening, eu me surpreendo de novo.
Um guia de uso para esse site
Querido leitor,
Eu decidi deixar o Tumblr nesse novo ano e continuar minha escrita em um espacinho só meu na internet. Um lugar que eu tenha mais controle e não precise mais de gambiarras para sobreviver ao péssimo editor NPF.
Então! Novo site. Eu decidi não importar o histórico do meu Tumblr para cá. Ele vai continuar disponível por lá (eu não pretendo parar de usar, inclusive, mas não quero deixar meus textos por lá). Acho que vai ser bacana.
Existem duas sessões de posts no arthr.me
:
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Agora: onde eu posto o que eu estou fazendo, tipo a tag agora, onde eu postava sobre pequenos relatos do dia-a-dia.
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Blog: onde você está agora… é aqui que os “textos” de antes vão. Geralmente, devem ser atualizados com menos frequência.
Eu quero manter algumas tags que eu gostava lá no Pão, como esquinas, achados e as impressões. Com o tempo, vou formando um arquivo com elas.
No mais, meu principal objetivo com esse site é tratá-lo como minha casa, na internet. A ideia é ir especificando ele com o tempo, conforme eu vou escrevendo mais aqui. Me inspirei nas próprias paredes brancas e o colorido das minhas plantas aqui pro site. Gostei de como está ficando, já parece mais confortável.
Eu vou começar o blog com uma pequena tradição da época do Pão, as minhas cinco coisas favoritas. Devo postá-las em breve.
— Arthur.
📺 Tô revendo The Wire. Queria ficar fazendo uns últimos ajustes no site enquanto assisto, mas é impossível. The Wire é muito denso — tem sempre muita coisa acontecendo, mesmo que na maior parte do tempo os personagens parecem perdidos. Se eu tiro o olho da TV, eu perco.